A história de Uriel e Maria é um exemplo de que vale a pena tentar.
Ele era laboratorista. Um rapaz recifense recém-chegado a Salgueiro(PE), para uma missão profissional, a convite de um médico da cidade, Dr. Orlando Parahym. Apesar de estar comprometido com uma moça de Recife, na nova terra, encantou-se com Maria, com quem trocava discretos olhares durante as missas, na igreja. Nem palavras, nem aproximações físicas. Só olhares. Mas que motivaram-no ao rompimento de um noivado.
Depois de um tempo no interior, os trabalhos foram concluídos e Uriel teve que retornar à Capital para dar continuidade à vida profissional. Lá noivou pela segunda vez, desesperançoso de reencontrar a jovem salgueirense.
Graças a Deus ou ao destino, uma nova proposta de trabalho trouxe-o de volta a Salgueiro e, dessa vez para ficar. Resultado: outro noivado terminado na Capital e mais olhares na igreja. Só que agora, em uma breve conversa com Maria, teve a confirmação que o desejo, entre os dois, era recíproco, providenciando o pedido de casamento a Seu Nezinho, que viria a ser seu sogro.
O pedido está registrado e, sete décadas depois, é possível conferi-lo em papel amarelado, tinta nanquim e letras desenhadas. Transcrevemos o conteúdo, na íntegra, para o caso de incompreensão da caligrafia.
Casaram-se em 1941 e esperaram catorze anos pela primeira gravidez. Infelizmente, a criança não sobreviveu ao parto. Três anos se passaram e nasce Maria Auxiliadora de Fátima. Mais seis anos e nasce Tarcísio, que viria a falecer aos trinta. Logo em seguida à chegada do segundo filho, vem ao mundo Maria do Socorro, portadora de síndrome de down, tendo resistido, apenas, até os doze anos.
O casal separou-se em 1978, pela morte de Uriel. A esposa faleceu em 1999.
"Nunca se deve ir de encontro à voz do coração", conforme afirma o pretendente, na carta em que fez o pedido de casamento. A voz do coração de Uriel lhe dizia: "Maria"! E ele obedeceu.
Maria de Sá e Uriel Bandeira de Melo. Vestido feito pela própria noiva. Buquê de flores de laranjeira. E uma almofada bordada onde se ajoelhavam os noivos.
Transcrição:
Caro senhor Nesinho:
Caro senhor Nesinho:
Antes de tudo
cumprimento-o respeitosamente. Espero que a presente lhe encontre com saúde e
em perfeita paz de espírito. Roubando alguns minutos de sua atenção, venho
tratar-lhe de um assumpto que sabes ser de grande interêsis entre mim e sua
prezada filha em virtude da amizade que desde há muito mutuamente nutrimos, a
qual, naturalmente investe-se das mais sinceras intenções. Senti-me bastante contristado ao saber que o
senhor acaba de certa maneira se opondo; certamente por algum malentendido.
Talvez quem sabe, o acaso dos destinos viesse nisto, acentuar a simpatia com
que sempre o admirei e distingui desde o nosso primeiro conhecimento, dono que
são dos reais excelentes predicados. Seria para mim absurdo, mediante aos meus
humildes sentimentos de religião e de moral, viesse desta maneira roubar a
confiança na amizade, e mais ainda, meu Deus, se isto chegasse a um
estremecimento de desagradáveis conseqüências.
Bem
sei que é filha única a quem deve prezá-la com dedicação e afeto, porém de
outra parte, isto é, sobre o ponto de um enlace matrimonial, creio que não sou
tão indigno dela.
Casamento
é um sério encargo de consciência em que se deve agir com a precisa serenidade,
pois sendo tão espiritual nunca se deve ir de encontro à voz do coração, quando
não haja visto impedimento grave e indique que venha por ventura manchar a
reputação de uma família.
Eu
que sempre olhei com simpatia a pessoa de sua estimada filha, e não tenho tido
para com a mesma aproximação em conversas supérfluas, posso dizer, apenas posso
confirmar que bem conheço nela uma mocinha de bem como dignamente lhe merece.
Outrossim, como os imprevistos dos destinos nos impeliu a uma estreita e
sincera afeição, e como por uma breve confidência com a mesma, soube que nutre
sentimentos iguais por mim, aproveito o feliz momento afim de pedi-la em
casamento. Meu prazer era vir pessoalmente, porém diante de sua atitude
tendente a uma negativa, e para melhor me expressar e ao mesmo tempo como o
íntimo assim o pede, resolvi fazer a presente.
Que
Deus seja o Supremo Confidente destas minhas palavras.
Terminando,
pois, a presente, aqui ficarei com a paz na consciência aguardando o mais breve
possível uma resposta a respeito e rogando aos céus pela sua felicidade.
Sem
mais, sempre ao dispor.
Do
amigo certo e humilde, Huriel Bandeira de Mélo.
Salgueiro, Novembro
de 1939
Agradecimentos à Maria Auxiliadora de Fátima Bandeira de Melo que me repassou todas essas informações.
Nossa uma bela história, porém muita tristeza. :(
ResponderExcluirFoi uma relação só de alegrias !!! Sou filha do casal !
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