quinta-feira, 7 de agosto de 2014

As hastes do ventilador



Limpo as hastes do ventilador quando de repente me vem à lembrança o meu pai. Não são pensamentos doces e agradáveis, mais ao contrário, sombrios, tristes, solitários e angustiantes. Todos esses adjetivos sem a mínima culpa de cometer excessos de linguagem.

Meu pai – recordo frases isoladas no tempo e no espaço. Isso é comum em minha cabeça -, ele nos mandou, certa vez, limpar os ventiladores, que não esperássemos sempre por ele. De fato, é engano esperarmos, com freqüência, pelas pessoas que nos são fundamentais. Imprescindíveis. Pois um dia, assim, num piscar de olhos, num pulsar de sangue, num instante imperceptível, num avançar milimétrico de um ponteiro... em um segundo, basta que se esteja vivo, o sopro de vida se esvai.

Essas pessoas – essas – imprescindíveis e fundamentais por quem esperamos, com freqüência, elas deixam de ser o que foram uma vez. Deixam de limpar os nossos ventiladores porque o sopro de existência escapou o corpo, a Terra, os brilhos nos olhos.

Já não havia brilho nos olhos do meu pai. E fazia um certo tempo.  Nem tanto num pulsar de sangue, nem tanto num instante imperceptível de um avançar milimétrico do ponteiro. As evidências estavam ali. Mas a esperança não me deixava vê-las no espaço de tempo real.

O sopro ia se esvaindo aos poucos. O brilho ia se apagando devagar.

Entre uma brecha e outra por onde passa o vento, esfregando a poeira acumulada com um pano úmido, como meu pai ensinara, penso, assim como quem recebe, como quem é vítima, como quem é alvo, passiva das conseqüências de um pensamento produzido por outra que não eu mesma, quais teriam sido os últimos sentimentos dele.

Se eu pudesse escolher, se eu pudesse evitar, se estivesse ao meu alcance eu não pensaria isso. Mas penso. Como quem é alvo de uma flecha, como quem está de mãos atadas, como quem é atingida por uma bala perdida. Passiva de qualquer defesa, penso. E me sinto estilhaçada: o que ele teria sentido nos últimos dias de vida?

Parece que ele pressentia algo. Meu pai chorou duas vezes. Em minhas memórias foram duas: no enterro do pai – meu avô – e no último dia dos pais pelo telefone. Eu em Recife, ele em Salgueiro: “feliz Dia dos Pais, pai eu te amo!” e ele chorou, emudeceu. Primeiro choro dele que não era em um velório, mas parece que prenunciava algo fúnebre e atestava a angústia. O que sonhara nesses meses antes de morrer que lhe angustiava tanto? O que se passava em sua cabeça?

Eu não quero, mas continuo pensando. Indefesa. Medrosa do que possam ter sido esses últimos dias. Que espelho ele encarou? Que fantasma ele viu? Ele sabia. Sentia que o sopro se dissipava. E nada deve ser mais aterrador que isso.

Se eu não tivesse tirado a poeira do ventilador. Se alguém o tivesse limpado antes de mim. Se... se... quem sabe... Talvez as lembranças permaneceriam adormecidas ou essa flecha certeira – pensamento – não me acertaria o centro: Ele sofreu? , um tanto pergunta, um tanto afirmativa.

...

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Ensaio sobre a Cegueira

Umas divagações desorganizadas, às vezes até bobas, sobre a cegueira, provocadas pelo livro Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago. 
A leitura, a seguir, está sendo complicada até para mim mesma que escrevi. Mas, sem dúvida, é um registro bom de se encontrar, na hora da faxina. 




Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.
Livro dos Conselhos







A desdentada por Saramago

Mais uma resenha de alguns anos atrás, não sei quantos. Saramago ainda era vivo quando li As Intermitências da Morte e minha mãe ficou preocupada porque eu estava lendo um livro sobre a morte. Não sabia ela que, na verdade, o tema era a vida, desse jeito louco, contraditório e, muitas vezes insuportável, mas que dá sempre para transformar em uma grande piada, sem sentido.

Saramago foi um homem encantador e fiquei apaixonada por ele. 

"...esse momento mágico havia sido engolido, desfeito pelo momento seguinte."

"As dissonâncias também fazem parte da música, minha senhora...".





O Caçador de Pipas

Muito tempo sem postar no blog. Ando um pouco travada... sem inspiração. Esta semana fiz uma faxina no quarto e encontrei algumas resenhas feitas por mim, de livros que li. Impressões e sensações. Não me perguntem a data. Não faço a mínima ideia. Talvez uns quatro anos. Adorei reencontrá-las e me senti encorajada a resenhar todos os livros que ler nesta vida!






terça-feira, 8 de abril de 2014

Quem lhe ensinou a andar de bicicleta?



Ilustração de Uiara Coelho, especialmente, para esta crônica.



Uma das pessoas mais importantes de sua vida estava lá, naquele dia de sábado, muita luz e calor. O céu infinito. Um azul claro, sem nuvens. Compartilhava, com você, medo e desejo, insegurança e vergonha. E essa, que é uma das pessoas mais importantes de sua vida, caminhava rápido, ao seu lado, segurando a cela e o guidão de sua primeira bicicleta, que não, necessariamente, era nova, pois, em muitos casos, era um modelo ultrapassado, herdado de um irmão mais velho.

Tinha muita gente torcendo pela sua conquista. A rua inteira ao redor, gritava “vai” e provocava, em você, um misto de motivação e medo de decepcionar. E uma pessoa fundamental, em sua vida, deixou o descanso do fim de semana para participar de uma aventura que não era dela porque acreditava no seu potencial para alcançar o equilíbrio, a estrada e as longas distâncias.

Aprender a andar de bicicleta já foi algo importante na vida de uma criança. Era uma espécie de certificado de sua capacidade para a superação, principalmente, dos próprios medos, e lhe conferia habilitação para segurar a cela e o guidão para outras crianças.

Quem lhe ensinou a andar de bicicleta?

Essas, provavelmente, são pessoas muito importantes na sua história porque lhe ensinaram sobre superação, coragem e confiança, tanto em si mesmo, quanto nos outros.

Creio que relembrá-las é resgatar-se. É trazer à tona o poder de realização que, com o passar dos anos e a chegada da vida adulta, vamos oprimindo em nosso íntimo.

Tudo é símbolo. Aprender a andar de bicicleta é um símbolo. Estou em busca desse resgate simbólico. Espero voltar. Quero alcançar umas longas distâncias em novas estradas, consciente e confiante em meu equilíbrio. E, claro, quero estar apta para segurar a cela e o guidão dos amigos (e inimigos), se for necessário.



Dedicado a Silvana, Joaquim Cícero, Lourdinha Rocha e Graça com quem aprendi a andar de bicicleta. 

sábado, 8 de fevereiro de 2014

BOM DIA, AMOR. TRAZ PÃO. BJ.TE AMO.

Ilustração de Java Araújo



O amor existe. Da forma mais trivial possível. É preciso entender isso. Geralmente, não é intenso, mas é tranquilo. Seguro. É como um porto, local de partida e chegada dos navios. É a âncora que impede que a água do mar leve a embarcação sem controle e sem destino. É o doce ninho. Quentinho e confortável, mas modesto. Esqueça os lençóis vermelhos de seda. A mulher sensual que você conheceu, no bar, em um sábado à noite. A namorada, sempre depilada. As lingeries rendadas e provocantes. Fio dental é muito desconfortável. Lycra é quente, provoca alergias e corrimentos. Não faz bem à saúde vaginal. Aliás, esqueça tudo o que você viu nos filmes pornôs. Em Malhação. Na novela das oito. Separe, ficção de realidade. E não espere muita emoção de um buquê de flores. De um jantar à luz de velas. De uma declaração pública. Eu pensava que era como nos filmes, que passear de barquinho com um cara lendo poesia para você, era o êxtase. Mas, não senti o êxtase e caí na real. Parei de fantasiar. E, só para finalizar a lista, sabe aquele ator, abdômen de tanquinho, braços fortes, rosto perfeito, que faz propaganda de cueca? Desista. O amor tem barriguinha saliente, cabelo assanhado e cara amassada. Dorme de maquiagem e acorda com o rímel escorrendo embaixo do olho. Usa calcinha de algodão. Tem um hálito desagradável quando acorda. Lava louça. Varre casa. Limpa banheiro. Engorda. Tem TPM. Tem depressão. Tem mau-humor.  E tem muitas responsabilidades. Mas, a característica fundamental do amor é a trivialidade. E vou dizer a inspiração para essa conclusão. Recebi um torpedo, por engano, precisamente, no dia 30 de agosto, às 8:20 da manhã. Em caixa alta. BOM DIA, AMOR. TRAZ PÃO. BJ.TE AMO. Logo, percebi que não era para mim. E, mesmo assim, fiquei super-feliz.  Era uma amiga do colégio, mãe de dois filhos. Quase não nos vemos. Infelizmente, nos distanciamos pelos compromissos diários, escolhas, rumos que a vida toma. Embora o carinho permaneça. A mensagem, claro, era para o marido. Respondi, dizendo que era engano, senão ela e as crianças iam ficar sem café da manhã. Não sei se, nesse dia, o pão chegou a tempo. Se é que chegou. Só, sei que, nesse dia, ficou mais compreensível, para mim, que o lindo de amar é simples. E trivial.



Último Romance - Los Hermanos



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Maternidade


Ilustração de Uiara Coelho. Ela pinta com blushes, sombras e batons.  



A solidão da casa e o vento frio na varanda convidaram-na aquele sentimento. A noite estava acolhedora, tanto quanto a cadeira de balanço bem posicionada em frente ao jardim. Os botões de rosas abriam-se. Ao mesmo tempo, a intuição de ser mãe desabrochava nos seus pensamentos. Era respirar profundamente, fechar os olhos e sentir a maternidade dentro do útero.

A criança não nascera, mas já fora gerada em seu instinto de amar.  Cuidadosamente, acomodou esse filho imaginário entre os seios que um dia o amamentariam e sentou-se na balançadeira. Cantou para o rebento, ainda sem nome, canções falando de beleza, de natureza, de inocência. Com a voz leve. Feminina. Materna.

O abraço era de cumplicidade. Embora a criatura não estivesse materializada em seus braços, através de uma forma visível, o abraço existia e estava dentro daquele corpo de mulher de vinte e poucos anos, junto com o repertório musical de ninar, o acalanto, as renúncias e os ensinamentos sobre Deus. Todos eles, ansiosos por aflorarem em totalidade e completude.

- Como seria gostoso sentir o peso de uma criatura na barriga! E andar devagar, pacientemente, pois toda espécie de espera é uma grande prova de amor. E quanto saboroso seria preservar-se pelo fato de guardar em seu corpo um outro corpo. Indefeso. Ela o defenderia. O cuidaria incansavelmente. – Aconchegava ao peito os pensamentos, com mais contato. Pele sobre pele. Como se fosse um bebê.

Cantou até a criança dormir. Dormiu. Puro e acarinhado. Quem a visse, naquela sala, pensaria vê-la sozinha. Mas uma mulher, durante seus momentos de desabrocho, terá alimento no seio, inquietação no ventre e estará sempre acompanhada dos seus filhos. Mesmo não nascidos.  


O Rio - Marisa Monte

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Libertar-se do compromisso carrasco de ser feliz

"Contemplação" - nankin e lápis de cor sobre canson (2008)


A felicidade é silenciosa. Discreta. Não grita para o mundo inteiro ouvir.

A vida inteira achei que felicidade e êxtase eram a mesma coisa. Extravasamento. Transbordar.
Mas aprendi com o tempo, o passar dos anos e todos os momentos de dor, que felicidade não se estampa. É algo muito íntimo e particular.

A felicidade só se conjuga no tempo presente. No passado, é sujeito inexistente. No futuro, é verbo intransitivo.

Transita no hoje. No agora. Em trânsito permanente. Um contraditório ‘permanente’ que pertence exclusivamente ao hoje. No já. No aqui. Da forma mais trivial, simples e humana.
Fosca. Opaca. Leve. Tranquila. Sem dilatação de pupila.

A gente tem pressa de ser feliz e sonha em viver uma grande história de amor e acha que o clímax é a meta e confunde intensidade com desespero e desespero com felicidade. Mas o apogeu é sucedido pela queda.  E é mais fácil aprender sobre a felicidade com o declínio.

Um indefinível calmo e manso. Sentimento de autonomia e liberdade. De despretensão.

Desconstrução de aparências, sucessos, conveniências, cargos, títulos, do tempo...

Não quero ser melhor que ninguém. Quero ser.

Nem quero fazer de uma forma genial. Quero fazer, sem tensão, aceitando e respeitando os meus limites.

Não sou especialista em felicidade. Nem quero ser. Para mim, felicidade e tempo são duas obsessões destrutivas.

A palavra 'felicidade' traz consigo tensão, cobrança, aparência. Obrigação. Fantasia. Ficção. E também arrasta uma corrente muito pesada chamada 'competitividade'.

Libertar-se do compromisso carrasco de ser feliz, contraditoriamente, já é ser feliz.


domingo, 29 de dezembro de 2013

Os lindos cabelos de Conceição das Crioulas

Ontem estive na comunidade quilombola de Conceição das Crioulas, 2º distrito de Salgueiro. Quantos rostos lindos! E quantos cabelos encantadores. Fiquei maravilhada com os penteados das mulheres de todas as idades. Somos isso: cachos, África, ondas, curvas, volume. 


Iasmin Tayane

Ana Luiza e Lizandra

Amanda Martins

Julio Gabriel

Queca


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Sentimentos à flor da pele

"O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá"
(À flor da pele - Chico Buarque)

Para algumas pessoas, uma tatuagem é muito mais do que um elemento estético. É simbolismo. Uma forma de externar algum sentimento, certeza ou filosofia de vida. No caso da jornalista Mariana Leite, fidelidade, estabilidade e firmeza são algumas das convicções nas quais acredita e que, além de gravadas na alma, estão marcadas na própria pele.

Esposa de Freddy Albuquerque, um dos proprietários do estúdio Rec Ink Tattoo, tatuou uma caricatura dela e do esposo. Um sinal de amor. Literalmente, sentimentos à flor da pele. Ao todo são11 desenhos espalhados pelo corpo. Entre Rosas, andorinha, âncora, ideograma chinês e uma gueixa feita, especialmente, para concorrer em uma convenção de tatuagem.

E me veio, como uma luva, Chico Buarque.


Da esquerda para a direita, andorinha, flores e carinha de um personagem do anime Cyber Marionets. Mariana, em seu casório, com o noivo, o tatuador Freddy Albuquerque, autor da tatuagem mais recente da moça, a âncora, que significa fidelidade, estabilidade e firmeza.



Estilo new school é influeciado pela arte urbana. Cores chamativas que lembram grafitagem.

Âncora feita recentemente pelo maridão. A próxima tattoo será outra andorinha.

Andorinhas:

"Significa, basicamente, boa sorte e liberdade, mas também pode representar o amor verdadeiro, já que as andorinhas só possuem um parceiro pelo resto da vida. Aí, cabe ao tatuado definir se esse amor é pela família, amigos, namorada(o), esposa(o) e por aí vai." 
Na composição da andorinha, Mari utilizou o estilo new school: cores fortes e chamativas e uma estética que lembra a arte urbana.

Âncora:
um símbolo old school que remete à velha escola da tatuagem. Ela tem representação de algo firme e seguro, mas também pode representar alguém agradecendo por sua atual estabilidade, fidelidade. Além de homenagear o estilo a que pertence, a escolhi pelo fato de estar sempre segura das minhas decisões, tanto no campo afetivo quanto no profissional." Feita pelo maridão.

A primeira tattoo:
"Sempre gostei de tatuagens e foi para homenagear uma banda que amo muito, Legião Urbana, que decidi fazer a minha primeira tatuagem, um violão que foi capa do Disco "As Quatro Estações". Essa tattoo, atualmente, está coberta, mas o carinho pela banda continua o mesmo".



"O que será que me dá 
Que me bole por dentro, 
será que me dá 
Que brota à flor da pele, 
será que me dá 
E que me sobe às faces e me faz corar 
E que me salta aos olhos a me atraiçoar 
E que me aperta o peito e me faz confessar 
O que não tem mais jeito de dissimular"

domingo, 17 de novembro de 2013

Quero ficar no teu corpo feito tatuagem


"Quero ser a cicatriz
Risonha e corrosiva
Marcada a frio
Ferro e fogo
Em carne viva..."
(Tatuagem, Chico Buarque)



As postagens nesse blog sempre me fazem referência a uma música. Chico Buarque inspirou-me dessa vez. Há muito tempo que tenho vontade de fazer uma tatuagem. Vez ou outra estou procurando imagens no google que me inspirem coragem. E, numa dessas pesquisas, tive a ideia de aprofundar o assunto aqui. Primeiramente, conversei com Mariana Leite (M.L) que é casada com um dos proprietários do Rec Ink Tattoo, Freddy Albuquerque. Mari entende bem do assunto porque acompanha sempre Freddy e também porque tem várias tatuagens. Depois, reuni umas fotografias de amigas minhas belas tatuadas. Vou fazendo várias postagens para ficar mais didático e facilitar a leitura. 




Que cuidados, com relação à saúde, higiene, o tatuador deve ter na hora de fazer a tatuagem?

M. L. - Os tatuadores devem usar luvas, máscaras e capotes. As agulhas são descartáveis. Lá no estúdio, até as biqueiras são descartáveis. Mas para quem usa bico de aço cirúrgico tem que ser autoclavado (esterilizado). Esses equipamentos garantem a saúde do cliente e do artista.

O que são biqueiras?

M. L. - Biqueira é como se fosse uma caneta.

Como se estabelecem os preços? É por tempo gasto, por sessão, por tamanho da tatuagem?

M. L. - Por tempo não, mas é variado. A maioria das vezes é por tamanho, mas se uma tattoo é muito grande e o cliente não pode pagar toda de uma vez, ele pode optar por pagar por sessão. O preço mínimo do estúdio é R$ 120,00.

Quais são as tatuagens que mais saem entre as meninas?

M. L. - Flores, símbolos do infinito, frases, estrelas, gatos, coroas, fadinhas, borboletas, desenhos new school...

O que seriam desenhos new school?

M. L. - As tattoos New School tem cores fortes e chamativas. A arte urbana é muito presente em elementos como grafitagens, HQs, Cartoon e Pop-art.

Vocês fazem tatuagem em menores de 18 anos?

M. L. - Não fazemos tatuagem em menores. É muita dor de cabeça. Mesmo que a mãe vá e diga: eu deixo! Não fazemos.


Femininas e tatuadas


Reuni algumas tattoos delicadas e femininas, de amigas minhas, e o que elas dizem sobre o desenho que escolheram:

Lírios - "Significam a vida, pois elas estão brotando
e a coroa é porque minha família é a família Reis."

Daise Vas - Empresária de moda
Recife-PE


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Sofrosine "Em grego Sophrosyne - etimologicamente significa saudável de mente, auto-controle ou moderação guiados pelo conhecimento e equilíbrio. Poeta romano Juvenal, posteriormente, interpretou sophrosyne como "mens sana in corpore sano" ("uma mente sã num corpo são ")". Rosa do infinito "Vários infinitos". Triquetra "É um simbolo originário das tradições Celtas. Ele representa as três faces da Grande Mãe, a energia criadora do universo: a Virgem, a Mãe e a Anciã. Também representava as estações do ano, que antigamente eram divididas em três fases - primavera, verão e inverno. Era um símbolo muito comum na civilização Celta pelo seu enorme poder de proteção. Foi plagiado pelo cristianismo, para representar a Santíssima Trindade". Milena Evangelista - Jornalista e produtora cultural Recife-PE

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Coração rendado


"Eu tinha vontade de fazer uma primeira tattoo e não sabia o quê. Queria mostrar algo que eu gostasse ou admirasse.Vendo um livro que tenho de Ronaldo Fraga, estilista, encontrei esse desenho de coração em uma de suas peças. É um coração rendado. Pesquisei e no site havia essa ilustração. Levei a referência para o tatuador. É meio para retratar minha paixão por moda, costura, tecido e também lembra minha mãe, que era costureira, além de ser uma ilustração de um profissional que gosto muito".

Camila Lopes - Jornalista, fotógrafa e produtora de eventos
Recife-PE


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"Quero pesar feito cruz
Nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem..."

(Tatuagem - Chico Buarque)

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Bazar do desapego, com 20% de desconto nas peças da Baba Yaga




As peças da Baba Yaga estarão à venda, no Bazar do Desapego S/A, com desconto de 20%!

Local: Espaço Santa Rosa.

De 11 a 14 de setembro.

Quarta(11) e quinta(12), será das 12:00 às 19:00
Sexta(13), será das 12:00 às 23:00
Sábado(14), das 12:00 às 17:00

O Espaço Santa Rosa fica na Rua D. Magina Pontual, 384
Bairro: Boa Viagem - Recife-PE
Contato: 81 9877 4428 (Fabi Giraldes)




sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Tous les garçons et les filles - 1962

P&B e romantismo têm tudo a ver. Some-se a isso a musicalidade da língua francesa e o resultado é paixão com uma pitada de sensualidade. Ouça Françoise Hard e pense no seu amor... ou no lindo vestido novo que você vai comprar. Aconselhamos a segunda opção. É só acessar o nosso site e fazer o seu pedido: www.ateliebabayaga.com.br. Um beijo.





Visite nosso ateliê virtual



segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Pequenos momentos. Grandes recordações.

Meu pai era o cara das azeitonas. Comia as que deixávamos no prato, sempre que a nossa refeição era uma pizza. Depois que ele se foi, uma azeitona dando sopa num prato vazio, tornou-se a materialização de sua ausência e, ao mesmo tempo, de sua presença forte na família.

Era, também, um contador de histórias. Muitas. Geralmente, quando voltava de algum encontro com os amigos e compadres de cachaça, trazia alguma informação engraçada ou inusitada. Aliás, quando o álcool chegava naquele grau de causar alegria e solidariedade fraterna, meu pai costumava arranjar padrinhos para os filhos. O problema é que éramos, apenas três e os amigos eram muitos. Sem contar que a mãe das crianças nunca era consultada.

Nos aniversários, costumávamos acordar ao som da sanfona. Mais ou menos às seis da manhã, ele entrava no quarto tocando e cantando parabéns. Tentei aprender, mas nunca entendi como sincronizar os 120 baixos (aqueles botõezinhos pretos), todos iguais, com o teclado e, ainda, abrir e fechar o fole. É necessário muita coordenação motora e os conhecimentos musicais dele eram totalmente instintivos para que pudesse me explicar essa dinâmica de uma forma didática. 

Tenho lembranças fantásticas da infância que, por mais que pareçam triviais, me causavam um sentimento muito bom e não lembro ter revivido algo parecido depois de adulta. Uma delas é saindo da igreja, com ele, para comprar um bombom que vinha com um anel de plástico de brinde.  Eu tinha de todas as cores. Ganhava um por domingo e aquilo era maravilhoso. Eu brincava de ser rica com uma jóia valiosa.

Meu pai também foi o dentista extra-oficial dos filhos. Ele tinha um certo prazer sádico em arrancar nossos dentes de leite. Pedia só para ver se já estavam moles o bastante e, aproveitava, e empurrava o dedão. E, acabou participando diretamente das nossas mudanças dos dentes. Hoje, as crianças colocam embaixo do travesseiro para a fada do dente levar e deixar, em troca, uma moeda. No meu tempo não tinha essa fantasia. Era quase uma cerimônia de iniciação tribal, com direito a uma espécie de ritual. Era para girar três vezes com o dente na mão dizendo 'morão morão, pegue seu dente podre e me dê o meu são' e, depois disso, jogá-lo no telhado de casa. Lembro como a cena de um filme.

Na minha infância, fomos muito parceiros, principalmente, nos sábados. Era um lazer, para mim, acordar de madrugada para ir fazer a feira de frutas e verduras no mercado público. Mainha ia colocando a mão na massa, escolhendo, contando, mandando pesar as coisas, enquanto eu e painho bebíamos um caldo de mocotó num restaurante bem popular. Eu era pequena, mas também era uma tracinha porque eu sempre repetia. Depois de adulta, cortei as carnes de gado da alimentação, mas quando lembro desse caldo e dos mocotós, num prato duralex colorido, tenho uma imensa sensação de prazer.   

Os cientistas dizem que somos constituídos de átomos. Mais que isso, nós somos feitos de histórias. E de história em história crescemos, viramos adultos e moldamos o nosso caráter. Uma presença paterna tem papel fundamental nesse processo. 

Parabéns aos pais que fazem com que o filho acredite que é o personagem principal desse enredo diário e que, naturalmente, revertem os pequenos momentos em maiores lembranças. 


Medalha de prata, mas para ele eu sempre estava nos primeiros lugares.

 Feliz aniversário com sanfona

 Parabéns. Aniversário de Rafael, em cima da cama e com direito a forró.

 Raquel, Joaquim, Rafael, Lourdinha e dentro da barriga, Rodolfo. 


 Rodolfo, finalmente, nasceu e nasceu palhaço. Eu me identificava com a viúva Porcina e Rafael achava que morava numa batcaverna.

As valsas de formaturas de ABC são boas recordações

domingo, 28 de julho de 2013

Trilhos, dormentes, estação... só faltou o trem!

Partidas e chegadas. Encontros e despedidas. Tristezas e alegrias. É assim a vida. Algo bem representado pelas estações de trem. Uns indo embora. Outros chegando. Retornando. Algo um tanto reflexivo. Filosófico.

Pessoalmente, a imagem de trilhos sempre me causou uma sensação de perspectiva, futuro, ir em frente, chegar longe. Algo muito bom de se sentir.

Cresci numa rua que ficava em frente a um trecho da linha do trem. Lembro de alguns vagões carregados de pedras. E, como não era algo freqüente, o som dos vagões passando tirava todo mundo de dentro das casas. Grande parte da rua ficava admirando a cena. Lembro, também, que os vagões eram avermelhados e que tinham bem grande o nome RFFSA.

Eu tinha um desejo, apesar de achá-lo impossível, de seguir algum trecho de trem. E várias vezes sonhei(literalmente) viajando em um. Por incrível que pareça, ainda hoje sonho com trens. Infelizmente, nunca estou dentro deles, só do lado de fora olhando.

Depois de adulta, o destino me colocou em contato, novamente, com essa história de trem e trilhos. Recebi um convite para administrar um antigo armazém pertencente a essa mesma linha e que seria transformado em um centro de cultura. Logo, quis conhecer a história daquilo tudo. Armazém, estação, locomotivas, maria fumaça, vagões. Então, fiz uma pesquisa com alguns ferroviários aposentados que residiam na cidade.

A Estação Ferroviária de Salgueiro, inaugurada em 1962, é o fim da Linha Centro, que ligava o litoral pernambucano ao Sertão. De fato, é o que podemos chamar literalmente “o fim da linha”, pois o projeto ficou inacabado. A proposta inicial era continuar o trajeto até Missão Velha, no Ceará. Esse intento, no entanto, nunca foi concretizado. E o lugarzinho onde os trilhos acabam, ficou sendo chamado de corte.

Nossa programação de domingo, hoje, foi fazer um pic nic em uma dessas muitas estações entre Salgueiro e Recife. Distante 15 km da área urbana. Abandonada e em ruínas. Mesmo assim, dá para sentir toda a energia do que aquilo representou e testemunhou. O nome, na fachada do prédio, ainda está intacto. Engenheiro Arlindo Luz. Quem teria sido? Merece uma pesquisa. De acordo com os ferroviários com quem conversei, é a 43ª estação desde Recife. A seguinte, e última, é a de Salgueiro, onde, atualmente, funciona uma secretaria municipal.

As casas, onde os ferroviários residiam, ainda permanecem lá, mas, igualmente, em situação de deterioração.

Entre as músicas mais bonitas de Milton Nascimento, uma, em especial, traduz um pouco desse romantismo e simbolismo das estações de trem e me marcou muito, na morte do meu pai. Uma bela composição chamada Encontros e Despedidas. Ajudou-me a compreender o processo natural da vida. Perdas e ganhos. Nascimentos e mortes. Idas e vindas. Alegrias e tristezas. Meu pai partia ao mesmo tempo em que muitos acabavam de chegar ao mundo. E na mesma estação, que é a vida.

Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais

E é bonito perceber que o trem que chega é o mesmo que parte.

Pois bem. Embaixo de um pé de algaroba, sobre os trilhos de ferro e os dormentes de madeira, inspirados, mesmo que inconscientemente por todos esses simbolismos, improvisamos uma refeição bem típica de nossa região. Uma deliciosa galinha de capoeira, baião de dois e farofa de cuscuz. Muitas conversas. Bastantes risadas.

E o lugar do abandono, pelo menos hoje, foi povoado por um encontro entre amigos.  

 Perspectiva


Lá em cima, ainda conservado: Engenheiro Arlindo Luz


Fachada em 2013. 15 km da zona urbana de Salgueiro


Fachada em 1960


Estação, pelo lado de dentro


Casa dos ferroviários em ruínas


Galinha de capoeira, cuscuz e baião de dois


 Já que o trem não passa mais...


 É (foi?) a 43ª estação da linha Recife-Salgueiro


Equilíbrio

Fundos da Estação. Percebam, em segundo plano, as casas dos ferroviários




Jéssica, Nih, Bruno, Willy, Raquel


Encontros e Despedidas. interpretação de Maria Rita. 
O trem que chega é o mesmo trem da partida.



O trem inspirando Raul Seixas