102 anos de vida e muita
paciência. Perguntei a Dona Lia qual era o segredo. ‘Paciência’. Resposta bem
incisiva. ‘E não escutar o que falam de você’.
Incrivelmente lúcida e forte,
demonstrou pessoalmente como o bando de Lampião dançava. E fez os passos ágeis
do xaxado. Aprendeu só de prestar atenção à tropa que, vez ou outra, era recebida na casa dos seus pais. Decorou, também, as modas que os cangaceiros cantavam e com uma
voz firme mostrou-as para mim.
Uma contagiante alegria composta
pelos poemas que recita, músicas que canta, a dança e bom-humor de sobra.
Satisfação imensa de existir.
Resiliente, adaptou-se às
mudanças dos costumes e da tecnologia no decorrer de um século e não se
ressente delas. Sem saudosismo ou crítica. Ela está, sempre, bem mergulhada no
presente.
E, qual o momento mais marcante
de todos?, eu quis saber. ‘O casamento dobrou minha felicidade’. Descreve o marido
e a história que tiveram com muito encanto. Ele era benzinho. Ela também. Era
assim que tratavam um ao outro. Quando o conheceu, em um forró, ele era noivo,
mas logo desfez o compromisso e, seis meses depois se desposaram. Casaram-se em
1935.
Com João, Dona Lia (que, na
verdade, se chama Maria) teve dez filhos, 49 netos, 52 bisnetos e 10 tataranetos.
Infelizmente, seu parceiro
faleceu quando faltava um mês para os 50 anos de união. Mas, ela superou o luto
com a paciência de que tanto fala e recomenda. E tocou o barco para frente.
Incansável (é a sensação que tenho quando a vejo) e, de acordo com a filha mais
nova, sem reclamação alguma. Um único medicamento para controlar a pressão. No
mais, saúde de ferro.
E eu, ainda, encucada, nem tanto
pela longevidade, mas pela alegria nata e resistente, estou bem perto de
concluir, que a juventude é, realmente, um estado de espírito. Não tem idade,
textura, aparência e, aparte todas as transformações políticas, sociais e as descobertas
da ciência, a verdadeira jovialidade permanece inabalável.
Que Dona Lia viva outros muitos e muitos anos de vida, deixando, por onde passa, o testemunho não só de uma vida longa, mas de uma vida feliz.
OBS.: Dona Lia (Maria Pereira Neves) nasceu em Jardim-CE, em 1911, mas veio para Salgueiro-PE pouco tempo antes de casar com João da Cruz Parente, onde permanece até hoje.
Linda matéria! Agradeço, como bisneta e leitora, pelo deleite causado pelas doces palavras! Vovó Lia é sempre uma lição de alegria à todos!
ResponderExcluirEu quem agradeço a oportunidade de poder contar um pouquinho da história de Dona Lia. Que bom que você gostou. ;-)
ResponderExcluircomo bisneta só tenho a agradecer pela matéria que foi muito bem representada. Tenho o grande privilegio de conviver com vó lia uma grande pessoa que anima a todos por onde passa.
ResponderExcluirMuito boa a matéria, obrigado por essa oportunidade de mostrar ao mundo essa graça que é minha Bisavó.
ResponderExcluirLinda homenagem, mais que merecida!!!
ResponderExcluirVózinha te amamos .