quinta-feira, 16 de maio de 2013

Apesar do tempo...

Companheiros durante 63 anos e nenhum desentendimento. "Nunca brigamos", seu Isnard me falava com firmeza. Eles cumpriram, direitinho, as promessas que fizeram em 1949, em frente ao altar e diante de Deus, quando casaram-se na Catedral de Garanhuns(PE). Realmente, só a morte separou-os, em janeiro deste ano. Estive pessoalmente, há poucos dias, com o noivo da fotografia abaixo. Em agosto próximo, ele fará 90 anos. Bem-humorado e tranquilo, apesar da recente perda da esposa, não percebi sofrimento nas recordações que me trazia. Pelo contrário, muita tranquilidade, provavelmente porque, para ele, dona Célia ainda está bem presente. 

Nada de tristeza. Falou, em tom de piada, que na noite de núpcias, o sogro mandou cancelar as reservas do hotel: "Vão dormir aqui", mas em quartos separados. Em sua casa, não permitiu que a filha dormisse junto ao marido. No carro que os levaria para Salgueiro, onde residiriam toda a vida, foram colocados distantes um do outro. Mais uma ordem do pai de Maria Célia. E, na própria casa, pelo menos durante uns dois dias, também não conseguiram ficar à sós. Parentes e amigos da cidade queriam comemorar. Comemoravam até de madrugada. E, visita não se coloca para fora. 

A noiva, das fotografias que se seguem tinha 19 anos. Ele, 27. No meio da conversa com seu Isnard, comentei que ela era muito bonita. Ele me corrigiu: "Bonita não. Prá lá de bonita".

É bom saber que é possível amar e ser amado, apesar do tempo, dos problemas e da rotina. E, perto da linha de chegada, olhar para trás e ter, nas lembranças, quase o mesmo sentimento do passado. Perguntei se dona Célia era dona-de-casa: "Ela era mais dona de mim do que do resto". 

Creio que, depois de mais de meia década, relatar detalhes do que se viveu seja um indício de que a felicidade entre o casal existiu verdadeiramente. Para alívio dos apaixonados, existem boas experiências de relacionamento a dois, fora das novelas e dos filmes.

Do dia em que esses segundos de duas vidas foram captados, até o momento atual, muita coisa mudou. Alguns costumes ficaram ultrapassados, como, por exemplo, a noiva, depois de casada, se ajoelhar numa almofada pomposa para pedir a bênção ao pai. Um elemento importante para o ritual, bordado e decorado com muito esmero. De lá para cá, as fotografias ganharam colorido, os casamentos passaram a ser registrados por câmeras digitais, compactas e cheias de recursos. Substituíram às descoloridas, grandes, pesadas e limitadas, de antigamente. Dá pra sentir o efeito do tempo, até mesmo pelo desgaste do papel fotográfico. 

Comprovações de que muito se perdeu no passado. A moda transformou-se. Os hábitos e valores morais ganharam novos significados. No entanto, o encanto e o respeito entre  os noivos Isnard e Maria Célia de 1949, mesmo diante das mudanças provocadas pelo tempo, permaneceram insuperáveis no casal seu Isnard e dona Célia de 2013. 


Maria Célia Moura aos 17 anos, em 1949. Belo vestido. Ajoelhada nesta almofada, pediu a bênção ao pai.

Ela e o marido, Isnard Soares. Casados. Uma parceria que durou 63 anos.

Um comentário :

  1. Raquel, estou com os olhos cheios d'água ao ler seu post e ao recordar o lindo casal seu Isnard e dona Célia, meus queridos vizinhos. Você descreveu com muita emoção essa linda história, imortalizada pelo tempo. Parabéns pelo lindo post!

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